Entrevista com o Dublador Francisco Brêtas - Repostagem antigo Site Retrotoku ~ HibikiCast - O PodCast que vai bater forte no seu coração!

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Entrevista com o Dublador Francisco Brêtas - Repostagem antigo Site Retrotoku


Hoje, o Hibikicast traz até você mais uma entrevista muito bacana. Em 2006, Francisco Bretas foi o entrevistado do antigo site www.retrotoku.brihost.com.br e ele falou ao site sobre os 20 anos de Flashman. Esperamos que você goste!!!

Entrevista com Francisco Bretas a voz da RedFlash de Flashman, Chefe Seishy - Jiban, Daigoro - Spielvan, Dasmader - Kamen Rider Rx, Shadow Moon - Kamen Rider Black, Goggle Red - Goggle V, Red Mask - Maskman, Hyoga - Cavaleiros do Zodiaco... e mais um monte de Seriados e séries na tv... 

Gostariamos de agradecer ao Nosso amigo Francisco Bretas onde tivemos o prazer de conhece-lo pessoalmente quando ele veio passar um final de semana no Rio de Janeiro no ano de 2005 a convite do Evento ANIPLUS.

Site: Primeiramente, conte pra gente um pouquinho do seu início de carreira. Como surgiu a profissão de ator na sua vida, em que época foi...

F.B: Eu sou mineiro de Juiz de Fora, vim para São Paulo para seguir a carreira de ator. Quando garoto copiava alguns comediantes da televisão, no fundo do quintal para a molecada da rua.. Era uma festa. Uma pequena apresentação e era pura diversão. Percebi que a criançada gostava, era "fácil 'fazê-los sorrir", e pensei: “ôpa, deixa eu seguir por aí. Preciso aprender a fazer isso. Aprender o ofício.” Comecei fazendo teatro infantil com Dulcemar Vieira [mãe de Nelson Machado (dublador do Kiko de Chaves), ator de uma comicidade e talento raros] Minha primeira diretora, severa, não gostava que se fizesse elogios para um ator, porque poderia "viciá-lo". Nelson me trouxe para o teatro profissional. E eu topei. Descobri o mundo e coloquei o pé nele. Trabalhei em várias Cias. A dublagem surgiu depois, por um convite de Eduardo Camarão (dublador de Green Flash e Machine Man), que já estava no ramo fazia um tempo.

Site: E a dublagem? Como foi que você foi parar na dublagem?

F.B: Como disse, surgiu depois através de um convite de Eduardo Camarão. Fiquei maravilhado com aquele mundo de estúdios, microfones e estrelas. Vozes que eu havia ouvido a minha vida inteira. Vozes que embalaram a minha infância agora estavam alí, á poucos metros de mim. Olhava para aqueles atores e atrizes conversando entre si. E num banco mais longe, eu fechava os olhos e tentava descobrir que artistas eles dublavam. Era tão incrível!!!! Quando eu os ouvia falando parecia que "eles" estavam sendo dublados. Imagine a minha sensação - eu que já era um fã super ligado. Tive a honra de conhecer alguns grandes nomes do rádio- teatro. Gente que colaborou com a formação artística desse país. Eu e alguns colegas que começaram na mesma época, tivemos a chance de aprendermos com esses artistas, que emocionaram milhões numa época em que o radio era o que televisão e a internet são hoje.

Site: Sabemos que o Red Flash foi o seu primeiro personagem principal. Conte um pouquinho pra gente como foi pra você fazer esse personagem.

F.B: Eu conhecí Líbero Miguel: Uma figuraça. Um homem alto, magro, fumava muito e tinha um coração enorme. Era elegante, de uma dicção impecável. Ele fazia o Monarca La Deus na série, lembram? Um homem de televisão. Foi ele que dirigiu a primeira novela da Globo. Quando o conheci, ele já estava tranquilo na dublagem, trabalhando na Àlamo. Mestre, paciente e um homem muito elegante. Fui apresentado à ele por Eduardo Camarão. Ele me disse que eu deveria assistir um pouco primeiro, para entender do que se tratava. Fiz estágio com a mulher dele: Nair Silva (que dublou a Mag em Flashman). Fiquei alguns meses assistindo àquelas feras, vestindo os atores na tela com suas vozes impecáveis. A dicção claríssima. Vi e ouvi Maximira Fiqueiredo dublando Angela Lansbury. Maximira não lia o texto - pasmem! - decorava. Falas enormes. E eu observando aquilo tudo boquiaberto. Nair além de dublar tambem dirigia os filmes da casa. Um dia ela olhou pra mim e disse: “Já tem bastante tempo que você está fazendo esse estágio. Vá lá e duble aquele anel, você é o John” . Eu fiquei atônito. Ver os outros dublarem é uma coisa, mas ir lá e fazer era outra história. Suei, tremi, mas levantei, limpei a garganta e comecei a ler o texto, sob a observação da Nair. Ela me acalmou e disse que eu não tivesse pressa. Aliviada a tensão, mandei ver. Ler rapidamente, olhar para a tela e não esquecer de interpretar. Mas acabou dando certo. A Nair gostou do resultado e chamou o Líbero e disse: "Esse garoto vai dar samba!" . O Líbero então resolveu me "jogar na fogueira" : - "Olha eu vou lhe dar uma série, espero que vc não falte às escalas. " Como eu poderia faltar se era o que mais eu queria fazer? E de cara: Din, o Red Flash! 


Site: A dublagem de Flashman foi dirigida pelo Líbero Miguel, que foi quem lançou você na dublagem, certo? Conte um pouco da sensação que você teve ao começar sua carreira trabalhando com feras como o Líbero, Gastão Malta, Ezio Ramos, Potiguara Lopes, Maximira Figueiredo, Helena Samara, Borges de Barros, e toda aquela galera da dublagem antiga, se você teve influencia de alguns deles...

F.B: Legal falar sobre isso. Quem dublou o Wandar foi Marcos Lander, dono de uma voz como poucos e ótimo ator de comédias francesas. Ele tambem era mestre de cerimônias. O Wandar tinha uma maquiagem maravilhosa, e Marcos Lander não deixava pedra sobre pedra quando colocava a sua interpretação naqueles atores duríssimos, às vêzes. O japonês tem uma outra métrica, outro rítmo. E encaixar português, não é fácil não. Quem fazia a Néfer era Dasy Celeste, tambem vinda do rádio e da música. Gastão Malta ( Dr Keflen), era super respeitado como grande figura do teatro. Tinha uma voz muito interessante. Dublou também O Poderoso Chefão. Líbero era o coordenador geral da Àlamo e trazia para trabalhar com ele atores com quem já havia trabalhado em outros veículos: Waldir Wey (Tetsuzan em Jiraiya), Helena Samara (Wilma Flinstone, a irônica Endora, Bruxa do 71, etc.), Ivete Jayme (A Sra Tokimura, Pinochio, Marco, dezenas de desenhos), Eleu Salvador(Várias novelas na Tupi, Bandeirantes - invariávelmente no papel de padre.Ótimo! Tinha com a uma atençao maior com colocação de voz e buscava sempre o timbre apropriado. Sempre muito detalhista na construção de seus personagens. Èzio Ramos (Galdan em Flashman, Spielvan, Tom Hanks, em Filadelfia. Dublou durante muitos anos o sedio Dr. Kildare. "Estrelou" muitos filmes importantes). 


Site:
Após o Red Flash, veio um enxame de personagens pra você dublar nas produções japonesas do gênero. Como foram surgindo os trabalhos posteriores?

F.B: Líbero percebeu que eu me empenhava muito nos comandos, nas ordens do Red Flash. Eu acreditava e mandava ver! Era muito divertido! Dublávamos todos dentro do estúdo. Hoje em dia, os atores dublam separadamente. Nem sempre os comandos e respostas saiam certinhos. No começo tínhamos que repetir várias vêzes. Mas depois que o elenco se afinou, passou a ser muito prazeiroso e divertido. Eu estava começando a aprender a técnica do ofício, e em série japonesa. O primeiro grande sucesso foi Jaspion, quer dizer, na verdade antes de Jaspion muitos outros ja haviam povoado de aventuras a cabeça da garotada, que hoje em dia devem ser seus pais. O primeiro herói da minha vida foi National Kid. Até hoje procuro filmes, coleciono. National Kid prá mim é cheiro e gosto de infância. Numa época em que eu costumava sonhar mais.

Site: Por causa do Red Flash, você acabou fazendo o Red Mask e o Goggle Red. Você se lembra bem deles? Dos 3, qual o que mais te marcou?

F.B: É , todos os outros Reds que vieram. Parece que eu acabei me especializando em Reds. Funcionou pro primeiro... Eu adorava fazer. Fui ficando cada vez mais animado com os comandos. Eu tenho um carinho especial por Red Flash, porque foi o primeiro trabalho grande que eu fiz . Foi uma grande escola!


Site: Você também emprestou a voz ao Shadow Moon, que é considerado um grande símbolo dos vilões entre os fans dessas produções. Como foi fazer esse personagem?

F.B: O primeiro vilão que fiz foi Retsuga, que era inimigo do Jiraya(Mauro Eduardo), que tinha um irmãozinho que era dublado pelo Hermes Baroli (Seiya). Depois me chamaram pra fazer Shadow Moon, que era um vilão misterioso, um pouco sentimental, mas implacável. Aí a voz não poderia ser leve e colorida como Red Flash, mas uma voz mais taciturna, mais ameaçadora. Curti muito interpretá-lo! 



Site:
Os fans de Black Kamen Rider tem 2 perguntas que até hoje nunca foram muito bem esclarecidas:

1) O útimo episódio da série nunca fora exibido no Brasil. Existem várias justificativas, e gente dizendo até que o episódio jamais veio para cá. Você se lembra se o elenco chegou a dublar esse episódio?

F.B: Sempre me fazem esta pergunta. Eu não me lembro de ter dublado o episódio. Mas é muito estranho que não tenha sido dublado. Quem acho que pode esclarecer isso melhor, é o Elcio Sodré, que fez Black Kamen Rider.

2) A série que deu continuidade ao Kamen Rider Black, que é Kamen Rider Black Rx, foi exibida no Brasil e dublada na Alamo. Nessa série, o Shadow Moon faz uma participação especial. Porém, quem foi escalado para dublar o personagem não foi você e sim o Afonso Amajones, sendo que você entrou na série dublando o personagem Dasmader um episódio após a participação de Shadow Moon. Você saberia dizer por que isso ocorreu?

F.B: Naturalmente houve um certo descuido em conferir quem já havia dublado a série. Nós somos escalados. Só sabemos a produção que iremos realizar, dentro do estúdio. Existe um rítmo muito grande e infelizmente isso acaba acontecendo.


Site: Você é um ator muito versátil e tem facilidade de encarar qualquer tipo de papel. E você se destacou em muitos filmes de comédia, como o Mentiroso e Debi e Loide. Pra você, fazer comédia é mais facil, é mais gostoso que fazer um vilão ou um herói por exemplo?

F.B: Fazer comédia em dublagem é tão difícil quanto no teatro, ou talvez, até mais. No teatro você tem o movimento, a sua expressão, etc. Em dublagem, é só a voz. E tudo tem que estar alí. Discretamente, sutilmente, mas mantendo a película viva. “O Mentiroso" me deu muiiiiiiito trabalho! Principalmente a cena final do tribunal, quando Jim Carey, dispara a falar enlouquecidamente sem respirar. Eu tive que faze-la de uma vez só. A gente brinca em estúdio dizendo: "será que ele se esqueceu de que seria dublado ?"

Site: Em Jiban você mostrou o seu lado comédia fazendo o Chefe Seishi e em Spielvan fazendo o Cientista Daigoro. Você tem alguma lembrança desses personagens?

F.B: Do Chefe Seishi sem dúvida, ele era muito engraçado! Pateta total! Ele fazia o chefe idiota para constratar com o herói Jiban( que era uma espécie de Robocop japonês, se repararem bem). Era engraçado! 


Site:
Seria inevitável não perguntar a você sobre Cavaleiros do Zodíaco. Como foi que surgiu a oportunidade para você dublar o Hyoga, que é seu personagem mais famoso?

F.B: Hyoga já foi depois. Eu tinha mais experiência ,e havia feito outras coisas. Quando o Baroli me chamou, nenhum de nós tínhamos idéia do fenômeno que seria e é até hoje CDZ. Eu fui aprendendo o jeito do Hyoga quanto mais fui conhecendo a história dele, que é contada aos poucos. Aos poucos também eu fui criando a "voz" calma e misteriosa do herói gelado.

Site: Tem algum momento do Hyoga que você lembre que te agradou mais? Você se identifica com o personagem?

F.B: A ligação dele com a mãe, a música, Hyoga chorando... Achava bonito. Tem uma batalha, em que o oponente dele domina as lavas de um vulcão e as atira sobre ele (é o Cavaleiro de Prata Babel de Centauro). Adorei quando surgiu o Cisne Negro. A possibilidade de fazer o mesmo personagem, como o seu oposto, seu negativo, me pareceu bastante interessante. Gostei muito de interpretar o Cisne Negro.

Site: Por causa de Cavaleiros do Zodíaco, a dublagem saiu do anonimato e hoje é reconhecida por muita gente, mas ainda não tem o valor que deveria ter dentro do cenario cultural da Arte Cênica. O que você pensa a respeito disso? 


F.B: Agora me respondam: O que tem valor dentro do cenário cultural? A novela das oito? O Tirica? O teatro? As artes plásticas? O rap?? O brasileiro tem uma baixa estima secular. As coisas estão melhorando, mas muito lentamente. Somos nós que temos que fazer esta mudança ou ajudar a mudar. Tudo o que é nacional em geral é criticado. A começar pelo próprio brasileiro. O astronauta pode fracassar... A patroa sempre tem estrias... Um dos temas mais recorrentes do cinema nacional é a miséria e a favela. Acredíta-se que somos bons só em futebol e carnaval. O que eles não sabem, é que há muito mais por aí. Tem muita gente talentosa construindo silenciosamente um Brasil bom e bonito prá todo mundo.

Site: E os fans? Você tem contato com eles? Como encara isso?

F.B: Agora com a Internet esse contato acabou se estreitando. Tambem vou a alguns eventos, é muito bom estar cara a cara com eles. Adoro! Conversamos, trocamos figurinhas. È sempre legal!

Site: Você é frequentemente reconhecido nas ruas por ser o dublador do Hyoga? Quando te reconhecem, reconhecem pelo Hyoga ou por outros personagens?

F.B: Na rua nunca aconteceu. Mas no teatro, com frequencia. A primeira vez foi na Comunidade Monte Azul. Terminou o espetáculo, e bateram na porta do camarim , três garotos um pouco envergonhados : - Desculpe perguntar, mas vc dubla? -Sim.. -E vc dubla desenhos japoneses? Sim ,eu dublo.. -Vc é o Hyoga??? E eu rindo respondi: -Na verdade não, eu não sou o Hyoga. não que eu gostaria, mas eu dublo o Hyoga... -Eu não disse? Eu sabia que era ele!!! Foi muito legal!!! 


Site: Você, Elcio Sodré, Carlos Laranjeira e Gilberto Baroli são os dubladores que mais atuaram em produções japonesas. Como você se sente em relação isso? Você acha que seus outros trabalhos em outras produções são menos valorizados pelo público do que os de produção japonesa?

F.B: Acho que o meu trabalho em produções japonesas são mais conhecidos pelos fans. O público dos outros trabalhos, não têm o costume de se aproximar dos atores de dublagem, ainda que tenham curiosidade. Costumo dizer que o nosso trabalho só é bom se a pessoa esquecer que o filme é dublado e mergulhar na história. Termina o filme e as pessoas comentam que ficaram emocionadas com tal e tal ator, se esquecendo que a voz daquele personagem é a de um ator brasileiro.

Site: O teatro também é uma grande paixão na sua vida, certo? Recentemente você esteve fazendo Otello de Shakespare. Conte um pouco da sua experiência no teatro.

F.B: A minha formação é totalmente teatral, comecei a carreira em 79, e de lá prá cá estou sempre no palco. Otelo ficou em cartaz por tres anos, lotando de quinta a domingo. Um grande sucesso do Grupo Folias D'Arte. O espetáculo recebeu cinco indicações ao Prêmio Shell ( ator, atriz, iluminação, cenário e direção). Fazia o rei dos vilões shakespearianos: Iago. Foi uma experiência inesquecível, com atores incríveis, Ailton Graça, Renata Zaneta, Edson Montenegro, Nani de Oliveira,etc

Site: Houve algum momento na sua carreira que mais te marcou? Algum personagem ou momento especial que você gostaria de compartilhar com os fans...

F.B: Em dublagem fiz "O carteiro e o poeta", que foi um trabalho muito delicado . Agrado em "Tudo sobre minha mãe" de Pedro Almodovar. "O Crítico". Em teatro, claro que Iago em Otelo; Scapino em Verás que tudo é mentira(ambas dirigidas por Marco Antonio Rodrigues), Banquo em Macbeth direçaõ de Ulysses Cruz. R.T: O que você tem feito ultimamente? Você é diretor de dublagem em São Paulo, certo? Mas ainda está dublando muito? Sim tenho dirigido dublagem na VoxMundi . Dirigi "The Office", "O Aprendiz", Clifford, o cachorrinho; Tracy Mcbean. ùltimamente dublei: Lazytown; O Aprendiz ( a versão mais recente); Cupidos; A pior semana da minha vida, etc. Mas tenho dirigido mais do que dublado. 


Site: Gostaríamos de agradecer de coração por essa entrevista que você gentilmente cedeu ao nosso site, deixando um espaço aberto para que você deixe uma mensagem para os fans que possuem um apreço enorme pelo teu trabalho.

F.B: Obrigado vocês pelo carinho, pela atenção e pela longa companhia durante esses anos todos. È legal saber que de um jeito ou de outro, estivemos juntos esse tempo. Tomara que tenha sido bacana prá vcs, como foi pra mim. Um grande abraço a todos!!!

*Nota do Site – Algumas correções: Graças a entrevista do grande Francisco Brêtas, nós do Retrotoku poderemos corrigir 2 pequenos erros que vem sido bastante divulgados na internet como uma afimarção correta: Esqueçam os nomes dos dubladores dos personagens WANDAR E NEFER que já divulgamos antes e que hoje circulam em toda internet: Esqueçam que foi divulgado que Wandar e Nefer eram Potiguara Lopes e Aliomar de Matos respectivamente. Wandar e Nefer foram MARCOS LANDER e DAISY CELESTE respectivamente! Agradecemos ao Brêtas por essa correção!!!

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